sábado, 22 de janeiro de 2011

Laptops e o Eritema ab igne


Interessante esta nova apresentação da dermatose, associada aos avanços tecnológicos.

Do latim "ab igne" significa "do fogo". O eritema (com a licença dos dermatologistas) é uma dermatose localizada, causada pela exposição prolongada ao calor (43-47 graus Celsius). Caracteriza-se por uma hiperpigmentação reticular da pele, inicialmente avermelhada, que com a exposição prolongada pode tornar-se azulada ou amarronada.

Há alguns anos os relatos eram de lesões nas costas (de nossos avós), pelo uso de calor (bolsas de água quente) para alívio de dores lombares. Mais recentemente uma nova causa para as lesões tem sido descrita. Em 2004 foi relatado o primeiro caso desta dermatose relacionado ao uso de laptops. Em outubro do ano passado (mas só vi hoje), na revista Pediatrics,  a dermatose foi documentada em uma criança de doze anos (paciente mais jovem já descrito). Hoje são apenas 10 casos no mundo!
Eritema ab igne
na coxa direita

No caso dos laptops a dermatose é localizada nas pernas, por causa do uso destes apoiado às coxas. A lesão, geralmente é assimétrica, devido ao calor emanado pelas baterias, ventilador ou disco rígido, localizados em um dos lados da máquina.

A condição é benigna e geralmente melhora com a suspensão da exposição ao calor.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Mais Sobre o Google "Epidêmico"

Vejam os mesmos gráficos da postagem anterior comparando os dados do Google Flu Trends (em azul) com estatísticas oficiais (em laranja), para África do Sul, Austrália, Alemanha e Japão.




Dados nacionais são experimentais pela ausência de dados oficiais para comparação.

Google "Epidêmico"

Em artigo publicado na revista  Clinical Infectious Disease Herman Anthony Carneiro e Eleftherios Mylonakis descreveram a (impressionante) capacidade do Google, em identificar precocemente epidemias ou surtos. Em testes preliminares, a ferramenta Google Trends foi considerada promissora pelo CDC (Center for Disease Control and Prevention). Os autores demonstram que o Google Flu Trends foi capaz de identificar surtos de Gripe em até dez dias antes que as estatísticas oficiais do CDC. Na figura abaixo os dados do Google Trends (azul - buscas pelo termo "Gripe") se correlacionam (muito bem) com os casos de gripe notificados pelo CDC (laranja).

A identificação em tempo real de dados relacionados a epidemias possibilitaria uma ação preventiva precoce no caso de doenças transmissíveis e poderia assegurar acesso ao tratamento, reduzindo o dano que uma epidemia pudesse causar.

Embora muitos pontos ainda devam ser ajustados, especialmente no que se refere a padronização dos termos de busca, além de limitações como a impossibilidade de identificação de pequenos surtos e a necessidade de acesso a rede, o google (epidêmico) parece uma ferramenta única para identificação em tempo-real e rastreamento de epidemias de alta prevalência.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Repelentes no Mercado brasileiro

Mais sobre repelentes disponíveis no mercado brasileiro.

Princípio Ativo
Produto
Concentração
Idade Permitida
Tempo de Ação
DEET
Autan (johnson Ceras) aerosol, loção, spray
6-9%
 > 2 anos
Até 2 horas

OFF (Johnson Ceras) loção, spray
6-9%
 > 2 anos
Até 2 horas

OFF kids (Johnson Ceras) loção
6-9%
 > 2 anos
Até 2 horas

OFF (Johnson Ceras) aerosol
14%
 > 12 anos
Até 6 horas

Super Repelex (Reckitt Benckis) spray, loção
14,5%
 > 12 anos
Até 6 horas

Super Repelex (Reckitt Benckis) aerosol
11,05%
 > 12 anos
Até 6 horas

Super Repelex kids gel (Reckitt Benckis)
7,34%
 > 2 anos
Até 4 horas
Icaridina
Exposis adulto (Osler) gel, spray
50%
 > 12 anos
Até 5 horas

Exposis Extreme (Osler) spray
25%
 > 10 anos
Até 10 horas

Exposis infantil (Osler) spray
25%
 > 2 anos
Até 10 horas
IR3535
Loção antimosquito (Johnson e Johnson)
-
 > 6 meses
Até 5 horas
Óleo de citronela
Citromim spray (Weleda)
1,2%
 > 2 anos
Até 2 horas
 Retirado de Stefani GP, da Revista Paulista de Pediatria de 2009.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Repelentes e o DEET

Mosquito da Dengue.
Após a necessidade de recomendação de uso de repelentes para familiares, descrevo aqui o que coloco para os pacientes no consultório.

O DEET (N-Diethyl-meta-toluamida) é o repelente de insetos mais usado no mundo. A recomendação é de uso a uma concentração de pelo menos 30%. Quando utilizado conforme recomendado a probabilidade de toxicidade é muito baixa. Repelentes a base de DEET não devem ser utilizados em crianças com menos de 2 meses, conforme recomendação do CDC (Center for Disease Control).

Para diminuir o risco de toxicidade o CDC recomenda:
1. Evite usar por tempo prolongado ou em uma grande superfície corporal.
2. Não aplique nas mãos das crianças pelo risco de serem levadas à boca.
3. Não aplique em baixo de roupas apertadas como fraldas.
4. Não utilize nos olhos ou mucosas.
5. Não utilize o spray diretamente no rosto, passe nas mãos e após no rosto.
6. Não aplique em cima de feridas.
7. Retire quando chegar em local fechado.
8. Não aplique em cima de material plástico.
9. Guarde em local longe das crianças pois a ingesta do produto pode ser tóxica e até fatal.
10. Em caso de reações alérgicas suspenda o uso (o produto pode raramente causar reações alérgicas).

Apesar do uso em larga escala no mercado americano, a ANVISA, em portaria publicada em dezembro de 2009, não recomenda o uso de concentrações acima de 30% no Brasil. Dessa portaria, concentrações abaixo de 10% não devem ser aplicadas em crianças menores que 6 meses e concentrações de 11 a 30% não devem ser usadas em crianças menores de 12 anos.

No mercado brasileiro, geralmente não há uma descrição da concentração de DEET na maioria dos repelentes. Das principais marcas comercializadas, Off, Autan, Repelex tem menores quantidades (em torno de 6 a 15%) de DEET, concentrações consideradas insuficientes em locais de maior risco e que obriga a necessidade de aplicações mais frequentes, especialmente em temperaturas acima de 30°C (o que é muito pouco prático). O  Exposis possui uma concentração de 50% de DEET. Ainda, o Autan e o Exposis também tem um apresentação sem DEET, mas sim com Icaridina (Beyrepel),  com proteção acima de 8 horas (alta eficácia), em apresentação de uso em adultos e crianças.

Recomenda-se que em caso de uso de algum protetor solar não se use um repelente com DEET, devido a maior absorção pela pele do DEET na presença do protetor solar. Além do DEET poder prejudicar a ação do protetor solar.

Espero que tenha esclarecido algumas dúvidas. Escolha a melhor opção indicada para você.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Epidemia de Dengue

"...A cabeça dói muito, até ao mexer os olhos. Tenho febre alta com dores pelo corpo, parece uma gripe muito forte..."

Uma semana após a paciente acima apresentou manchas avermelhadas no tronco que se espalharam para todo o corpo - figura (demonstrando o eritema - vermelhidão - característico, com vários partes mais claras no seu interior), juntamente com melhora da febre. A paciente proveniente da Suíça estava passando férias no Rio de Janeiro e havia vindo à Porto Alegre.

Estes sintomas caracterizam o quadro Dengue Clássico. Causada por um vírus a infecção é endêmica em países tropicais como o Brasil. A fêmea do mosquito Aedes aegypti transmite o vírus durante a alimentação com sangue humano, especialmente pela manhã e ao final da tarde nas área urbanas.

Aqui no sul, há alguns anos, casos como esse eram geralmente "importados" de outras localidades como o relatado acima em 2004. Hoje vivemos situação diferente e estamos em alerta para um possível aumento no número de casos no Rio Grande do Sul, para o verão, que começou em 21 de dezembro. A vigilância epidemiológica computa até 30 de novembro 3367 casos autóctones (adquiridos no estado), destes 2958 em Ijuí, noroeste do Estado. Em Porto Alegre são 52 casos diagnosticados até este momento.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Carta aos Viajantes

Prezados viajantes,

As bactérias resistentes tornaram-se um novo, indesejável e indigesto passageiro em nossas viagens. A identificação da presença da bactéria Escherichia coli em 44 de 100 viajantes suecos que retornaram ao seu país demonstra a relevância do problema. A maioria deles apresentava a bactéria no intestino. O problema é que estas bactérias apresentavam vários mecanismos de resistência e os viajantes permaneceram colonizados por até seis meses. Um dos principais fatores de risco para a identificação da bactéria era o viajante ter ido à India. Provavelmente a aquisição da bactéria tenha ocorrido através da ingestão de alimentos contaminados.

Outra publicação também referente a aquisição de bactérias resistentes chamou a atenção da opinião pública: a disseminação de um novo mecanismo de resistência, a NDM-1 (New Delli Metallo-beta-lactamase) identificado em pacientes que haviam realizado procedimentos médicos na India e Paquistão em Agosto de 2010. Estima-se que o turismo médico na India atenda em torno de 450.000 pacientes, movimentando cerca de 2 bilhões de dólares-ano. As evidências apontam para a disseminação desta resistência  para vários outros países como Austrália, Áustria, Canadá, Bélgica, França, Alemanha, China, Japão, Holanda, Noruega, Suécia, Singapura, Taiwan, Reino Unido e Estados Unidos.

À semelhança da nossa KPC (Klebsiella produtora de carbapenemase) a presença de  NDM-1, confere resistência a quase todos antibióticos disponíveis, mas a resistência por NDM-1 parece se disseminar mais rapidamente que a KPC.

Desta forma, além de cuidados com vacinas, repelentes, mosquiteiros, uso de medicamentos profiláticos, em nossas viagens temos que ter também especial cuidado com as bactérias resistentes. Não há nada como visitar lugares novos, conhecer outras culturas e pessoas, provar novos sabores, mas um planejamento prévio evita dissabores durante ou no retorno de uma viagem.