sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

12 “HIV Hot Topics” no ano 2010:

Fazendo uma retrospectiva de 2010 dos principais avanços no cuidado de pacientes com HIV:

  1. Dezembro – A “cura” do HIV em relato atual do paciente de Berlim (vide postagem de 25 de dezembro).

  1. Novembro – Artigo publicado (Grant RM, New Engl J Med) evidencia que a profilaxia pré-exposição com duas drogas anti-HIV em pessoas expostas ao vírus reduz em 44% a chance de transmissão.

  1. Novembro – FDA (Food and Drug Admnistration) americano aprova o Egrifta (tesamorelin – análogo do hormônio de crescimento) para tratamento de pacientes com HIV e lipodistrofia (alteração da gordura corporal), especialmente gordura abdominal.

  1. Outubro – Estudo diz que quanto mais tempo o paciente está em uso da terapia anti-HIV mais fácil é o controle do vírus (Lima VD, J Acquir Immune Defic Synd).

  1. Agosto – A identificação de anticorpos neutralizadores de mais de 90% de isolados de HIV-1 (Yang ZY, Science), traz esperança na busca de uma vacina.

  1. Julho – Estudo CAPRISA (Karim QA,  Science), demonstra o benefício de gel vaginal a base de tenofovir (medicamento anti-viral) na prevenção da transmissão do HIV em mulheres sexualmente ativas na África do Sul.

  1. Julho – Os controladores de Elite (Grabar S, AIDS) são pacientes que conseguem controlar a replicação viral do HIV sem o uso de medicamentos (<1% dos pacientes). Estudo diz que eles têm uma ativação maior do sistema imunológico (Saag M, Clin Infect Dis).

  1. Julho – Vacina contra o H1N1 tem baixa resposta em pacientes com HIV diz estudo (Tebas P, AIDS). A produção de anticorpos foi de 61%, comparado com 95% em indivíduos saudáveis.

  1. Junho – Estudo (Donnel D, Lancet) demonstra redução de mais de 90% da transmissão do HIV com o uso de terapia antirretroviral em casais heterossexuais discordantes para a presença do vírus.

  1. Junho – FDA aprova teste anti-HIV capaz de detectar infecções agudas (detectando partículas virais) e crônicas (detectando anticorpos).

  1. Maio – Estudo demonstra que pacientes com HIV, assintomáticos e não usuários de drogas injetáveis, tem a mesma expectativa de vida que pessoas sem o vírus (van Sighem, AIDS). A expectativa média de vida é de 77,7 anos para os homens e 82,8 anos para mulheres com HIV.

  1. Fevereiro – Testes com medicamento anti-HIV contendo quatro drogas em uma, alcança resultados promissores em estudo apresentado na Conferência de Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI).

domingo, 26 de dezembro de 2010

Cura do HIV – O paciente de Berlim



Pois é... também duvidei quando minha mulher me avisou sobre o que havia saído na imprensa em Novembro de 2008, quando eu estava no II Congresso Gaúcho de Infectologia em Gramado (e ninguém havia comentado nada sobre o assunto no congresso).

Inicialmente, quem é o paciente de Berlim?

Este relato de cura da infecção pelo HIV foi apresentado na 15° Conferência de Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI) em 2008 em Boston nos Estados Unidos. O poster 719 foi apresentado na conferência pelo grupo do Hospital Charité (Campus Benjamim Franklin) de Berlim, um dos hospitais mais tradicionais em pesquisa da Alemanha – foto.  O poster relatava o caso de um paciente de 40 anos, com infecção pelo HIV e Leucemia que, após realizar um transplante de medula óssea no ano de 2007, suspendeu o uso da terapia anti-retroviral (coquetel anti-HIV) e 285 dias após a suspensão não apresentava partículas virais detectáveis no sangue. O paciente havia recebido a medula de um doador que apresentava a mutação genética CCR5-delta32. Nossas células de defesa podem apresentar os receptores CCR5 e CXCR4, que são as portas de entrada para o vírus. O vírus R5 escolhe entrar pela porta CCR5 e os vírus X4 escolhem a entrada CXCR4.  Este paciente apresentava o vírus R5 e recebeu no transplante o gene mutante que confere um bloqueio da porta de entrada CCR5, o que funcionalmente conferiu “cura” da infecção. O termo “cura funcional” é aplicado porque o vírus não é eliminado totalmente do corpo e permanece viável nos gânglios linfáticos, por exemplo, embora não seja detectado no sangue.

Nova publicação (bloodjournal, 2010) atualizando este caso, relata que o paciente ainda encontra-se “curado” da infecção e com completa reconstituição do sistema imunológico. Ainda, 3,5 anos após o transplante os reservatórios para o vírus diminuíram consideravelmente, o que é uma excelente notícia, tendo em vista que os reservatórios virais são um dos grandes obstáculos para a cura da infecção com a terapia anti-HIV somente. Então este relato traz uma nova perspectiva em termos de cura e manejo da infecção e esperança para os pacientes, embora muitos pontos ainda permaneçam obscuros e mereçam investigação. O transplante de medula óssea é um procedimento muito agressivo, portanto não será a forma escolhida para tratamento da infecção, mas estudos na direção da inibição destes receptores (CCR5 ou CXCR4) deverão ser objeto de investigação futura.