sexta-feira, 4 de março de 2011

Luz Violeta e as Infecções Hospitalares

Interessante o estudo publicado por Mclean, na revista Journal of Hospital Infection, uma das mais respeitadas revistas em infecção hospitalar. Os pesquisadores demonstraram que o uso de luz visível (luz violeta de alta intensidade e espectro estreito) reduziu o número de colônias bacterianas no ambiente hospitalar. Mclean e seus colaboradores detectaram uma especial redução do número de colônias da bactéria Staphylococcus aureus, entre 50-92%. Apesar disto, antes de nos mobilizarmos para adotar esta nova tecnologia em nossos hospitais e até fora destes, devemos fazer algumas ponderações:

1. Há três outros estudos publicados pelos pesquisadores, os dois primeiros em laboratório e este comentado aqui, em quartos de um hospital Escocês. Todos são estudos que geram hipóteses, portanto são necessários mais estudos complementares para demonstrar o real benefício clínico da intervenção utilizada (luz visível).

2. Trata-se de um estudo antes-depois,  o que na hierarquia dos estudos científicos é um desenho metodologicamente inferior, que não garante que o resultado obtido seja devido à intervenção, podendo ter ocorrido por outros fatores (fatores de confusão).

3. Falta um grupo de comparação (grupo controle), o que torna o estudo menos definitivo.

4.  Os autores não descrevem outros co-fatores, ou ações que poderiam impactar na redução da carga bacteriana, independente do uso da luz visível. Como por exemplo: como foi realizada a higienização do ambiente e a própria contribuição dos profissionais e paciente na redução do número de colônias no ambiente? Os pacientes e cuidadores não poderiam ter influenciado o resultado, através da utilização de práticas mais cuidadosas (como higiene de mãos), a medida em que sabiam que o estudo estava sendo realizado (efeito Hawthorne)?

5.  Aguarda-se a replicação deste estudo em outros locais e pacientes e que a luz seja também efetiva em outras bactérias.

6. Não fica evidente o beneficio clínico do estudo. Com a redução da carga bacteriana há a redução da transmissão de infecções hospitalares?  O uso de luz violeta é superior a higienização do ambiente ou pode substituir esta?

Todos estes pontos devem ser abordados em estudos futuros, para que possamos adotar esta medida na prática diária de prevenção de infecções hospitalares.

Uma última pergunta: e nos locais de sombra???

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